Olá meninas, hoje o blog tem um post de uma convidada pra lá de especial, minha prima/amiga/irmã, nos conhecemos desde que tinha uns 4 anos, e hoje ela veio compartilhar um pouquinho do seu mundo conosco, o blog está de portas abertas Bia, volte sempre que quiser!
Dele e Dela
Outro dia eu
buscava um alívio para minha fome de maneira instantânea.
Eram duas da
tarde, o café tinha sido lá pelas sete da manhã e o shopping era ali ao lado.
Minha mãe me
acompanhou. Sentamo-nos a uma mesa mais afastada na inebriante praça de
alimentação. Devo confessar que adoro estes lugares. Não pelo consumo que se
prega e pela agilidade que se espera, mas por ser uma oportunidade incrível de
observar as pessoas.
Um pouco mais
a frente uma senhora era empurrada em uma cadeira de rodas, por uma moça de
meia idade que vestia branco, supus que deveria ser sua enfermeira. A
enfermeira conversava despretensiosamente com uma terceira pessoa enquanto
segurava uma toalhinha, dessas estilo “babetes” que se usa em bebês para
secar-lhes a boca.
Elas se
aninharam na cabeceira da mesa onde eu e minha mãe estávamos. Perto o bastante
para meus olhos ávidos, mas longes o suficiente dos meus ouvidos preguiçosos.
Aproximou-se
delas um jovem bonito, bem vestido, que parecia ter a minha idade. Ele gentilmente
se agachou beijou a senhora na bochecha e sorriu de maneira tão doce e singela
que tive vontade de aplaudir. A enfermeira trocou com ele algumas palavras e
ele se foi.
Lembrei da
minha avó. Senti falta dela. Prometi a mim mesma que a faria rir da próxima vez
que nos encontrássemos e que daquele dia em diante, me agacharia como ele havia
feito, para beijá-la a face também em sua cadeira de rodas.
Enquanto me
ocorria essas coisas, ele voltou. Trazia um prato de espaguete que podia
cheirar de onde estava. Tomou por sua mão a toalhinha e se despediu da
enfermeira. Ele sentou-se ao lado da senhorinha. Pacientemente colocou a toalha
presa na blusa dela, fazendo parecer um babador e conversava animadamente
enquanto esfriava cada colherada e lhe oferecia a boca.
Ele não se
importava com a boca torta, nem com o molho que ela derramava ao tentar engolir,
tampouco com o fato de, impossibilitada, ela não esboçar nenhuma reação. Ele
continuou a contar, a rir, a dar-lhe de comer e limpar o cantinho da boca
sempre que preciso.
Eu terminei
meu prato, minha mãe o dela e ficamos ali, absorvidas no papo que não ouvíamos,
mas nos alimentando da cena que víamos.
Acho que
ninguém mais reparou na cena. Uns olharam de soslaio ao esbarrar nas rodas da
cadeira ao correrem apressados para encontrar um lugar para se sentarem.
Eu vi naquele
rapaz uma chance. Uma oportunidade de me dar de presente a crença na
humanidade, no amor ao próximo, na miudeza das coisas simples e importantes.
O mundo
naquele momento não era meu, não era a praça de alimentação, era dele e dela.
Como sempre deveria ter sido quando estavam juntos.
Ele
transcendia a cadeira, o babador, o silencio. Ele era dela e ela era dele.
Ele parou o
tempo, parou a juventude, enganou a velhice e a doença aproveitou os instantes,
os segundos que eu e você vivemos desperdiçando.
Bianca
Saípta 12 de setembro de 2013.
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